
As tarifas impostas pelo ex-presidente americano Donald Trump sobre produtos importados geraram impactos globais, incluindo no Brasil. Contudo, segundo o economista Otaviano Canuto, ex-diretor do FMI e ex-vice-presidente do Banco Mundial, o principal canal de contágio para o país é financeiro, e não comercial.
Com a desaceleração do crescimento do PIB nos EUA e o aumento da pressão inflacionária, a possibilidade de queda adicional nos juros americanos se torna menor, afetando diretamente a economia brasileira.
Desde a gestão Trump, diversas tarifas foram impostas a produtos brasileiros, como o aço e o alumínio. Entretanto, Canuto argumenta que o Brasil não é um alvo prioritário na estratégia de tarifas bilaterais. O foco de Trump sempre foi reduzir o déficit em conta corrente dos Estados Unidos, atacando saldos comerciais específicos.
No caso brasileiro, as tarifas aplicadas afetam principalmente setores menos competitivos no mercado americano, tornando o impacto comercial direto limitado.
Canuto destaca que o principal reflexo para o Brasil ocorre pela via financeira. A política tarifária de Trump contribui para uma desaceleração do PIB americano e um aumento da pressão inflacionária. Como resultado, o Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, enfrenta maiores dificuldades para reduzir os juros.
Para o Brasil, isso significa uma manutenção de juros elevados no cenário internacional, tornando o crédito mais caro e reduzindo investimentos estrangeiros no país. Esse efeito pode ser mais prejudicial do que as tarifas em si.
Diante desse cenário, o Brasil possui poucas opções de retaliação comercial, dada sua capacidade limitada. Canuto reforça que o melhor caminho para o país é fortalecer sua economia interna e buscar acordos comerciais que minimizem a dependência do mercado americano. Além disso, é essencial monitorar a política monetária dos EUA para mitigar impactos financeiros que possam prejudicar o crescimento econômico brasileiro.
As tarifas de Trump trouxeram desafios globais e, para o Brasil, o efeito é menos comercial e mais financeiro. Com a inflação pressionando o Fed a manter juros elevados, o Brasil deve se preparar para um cenário de menor liquidez e maior volatilidade nos mercados.
A estratégia mais eficaz será manter políticas econômicas sólidas e ampliar relações comerciais diversificadas para reduzir sua exposição às oscilações da economia americana.