
Por Madeline Renbarger
Nos últimos anos, a Europa tem sido conhecida por sua abordagem regulatória rigorosa em relação à inteligência artificial (IA), priorizando a segurança e a ética. No entanto, o recente Artificial Intelligence Action Summit em Paris revelou uma mudança significativa de foco. O evento, antes centrado na segurança da IA, tornou-se um palco para investimentos e competitividade internacional, destacando a influência crescente dos Estados Unidos nesse setor.
O destaque do encontro foi a presença de líderes como Sam Altman, Sundar Pichai e Dario Amodei, que enfatizaram a importância da aceleração tecnológica. O governo francês anunciou um projeto ambicioso para impulsionar suas capacidades de cálculo em IA, incluindo uma usina nuclear dedicada para alimentar um novo centro de dados nacional. Além disso, a Mistral, principal laboratório de IA da França, firmou uma parceria com a empresa Helsing para desenvolver modelos de visão e linguagem voltados para operações militares.
Xavier Niel, um dos principais investidores do ecossistema tecnológico europeu, também anunciou um investimento de €3 bilhões para infraestruturas e para a criação do primeiro laboratório privado independente de IA na Europa, o Kyutai. Essa iniciativa visa tornar a Europa mais competitiva frente aos gigantes do setor nos EUA e na China.
Por outro lado, a declaração final do evento sobre segurança da IA pareceu secundária. Os Estados Unidos e o Reino Unido se recusaram a assinar o documento, demonstrando que a segurança da IA não é mais uma prioridade para seus governos. Em contraste, países como China e Índia apoiaram a declaração, sinalizando uma preocupação contínua com os riscos da tecnologia.
JD Vance, vice-presidente dos EUA, reforçou a abordagem americana ao afirmar que os sistemas de IA mais poderosos serão desenvolvidos com chips projetados e fabricados nos EUA. Essa posição obriga startups europeias a se alinharem com os interesses americanos ou correrem o risco de ficar para trás na corrida tecnológica global.
Apesar da posição desfavorável em relação aos investimentos, a Europa tem mostrado sinais de recuperação. O investimento em startups de IA cresceu de US$ 12,9 bilhões em 2023 para US$ 16,2 bilhões em 2024. No entanto, esse número ainda é pequeno se comparado aos US$ 100,9 bilhões investidos nos EUA no mesmo período.
O futuro da IA na Europa dependerá de sua capacidade de equilibrar regulação e inovação. Com a influência crescente dos EUA e o avanço da China, a necessidade de uma estratégia competitiva clara se torna cada vez mais urgente. A recente alta das ações europeias e o possível fim da guerra na Ucrânia podem oferecer um impulso econômico para fortalecer a posição da Europa no mercado de IA, mas desafios políticos e comerciais ainda representam barreiras significativas.